«Dele se disse que é o mais secreto dos poetas, e seguramente isto aproxima-se da verdade, pois para Walser tudo se convertia por inteiro no exterior da natureza, e o que lhe era próprio, mais íntimo, passou a vida inteira a recusá-lo. Recusava o essencial, o mais profundo: a sua angústia. Tal como ele mesmo dizia no seu romance Jakob von Gunten, disfarçava o seu desassossego no mais fundo das trevas ínfimas e insignificantes».
[Enrique Vila-Matas em "Doutor Pasavento"]
Não sabia desde quando a génese dos seus caprichos passara do campo dos sonhos e da idealização, para terrenos mais subterrâneos. Sabia sim, que um dos resultados desses mesmos caprichos derivou na dignidade por coisas tontas, que já por ser mais sofridas lhe pareciam agora menos tontas, mais aceitáveis, desde que permanecessem na esfera da sua solidão.
Aquilo a que luzia chamar de "suas pequenas dignidades" só a ele lhe dizia respeito, ja não por irremediável capricho, mas por não ter utilidade quer para a ética social, quer para as circunstâncias do mundo.