
Velásquez, Retrato Equestre de Baltasar Carlos
1635, Museu do Prado(Madrid)
Em 1623 foi nomeado pintor da corte do soberano espanhol Filipe IV. Nessa função o pintor espanhol teve como principal tarefa pintar retratos do rei e da família real. O “Retrato equestre de Baltasar Carlos” (1635), insere-se num conjunto de retratos equestres, pintados para o Salão de Reinos do Palácio do bom Retiro em Madrid. Na composição, montado a cavalo, surge o pequeno príncipe Baltasar Carlos (primeiro filho varão do rei Filipe IV e herdeiro do trono), segurando na mão o bastão, símbolo do poder real. O retrato exibe impecavelmente a dignidade e a nobreza do príncipe; o que é conseguido, quer através da cor brilhante das vestes pomposas (influência de Ticiano), quer no rosto pálido e iluminado do menino, onde com uma pincelada fluida e solta, Velásquez capta a impressão humana mais característica, deixando uma sugestão de solenidade para quem contempla a obra. É de notar que o ventre do cavalo tem uma perspectiva disforme. Isto acontece porque o retrato era para ser colocado em cima de uma porta do Salão De Reinos. Como a sua posição era alta, o quadro foi idealizado para ser visto de baixo para cima, o que ilustra a atenção dada pelo pintor à organização das suas obras. De facto, muitos críticos subscrevem a ideia que o pintor espanhol fez uma síntese entre a arte do barroco e a arte clássica. Se por um lado deu ênfase ao naturalismo e à observação da natureza sem recorrer às convenções, por outro lado nunca descurou a vital necessidade do sentido de equilíbrio procurado no renascimento. No retrato do príncipe, Velásquez confere à paisagem de fundo variações de luz e sombras, fazendo sobressair a profundidade de forma equilibrada. É ainda através de pinceladas rápidas e precisas que o virtuosismo de Velásquez antece em dois séculos o impressionismo.
De todo o modo, a obra de Velásquez insere-se no período do barroco das nações católicas, isto numa altura em que a reforma suscitou enorme conflitos sociais e religiosos na Europa. Na Flandres católica outros importantes artistas beberam na fonte do barroco na cidade de Roma, onde os artistas da época convergiam e discutiam os conceitos da arte. Pintores como Rubens e Van Dyck apreenderam as concepções do uso expressivo da luz e sombra, que foram decisivas para aprimorar as técnicas com o intuito de pintar fielmente o mundo à sua volta. Exemplo dessa escolha é a particular importância dada aos artistas flamengos “para expressar a textura de tecidos e da carne”. Rubens foi um génio do barroco da Flandres católica, que tal como Velásquez trabalhou sobretudo para a realeza. Os seus retratos são extremamente realistas. Neles as personagens adquirem enorme vitalidade, a que não é alheio o contraste da cor, assim como a utilização de cores quentes nos rostos das personagens que fazem sobressair a luz e conferem expressividade e vigor. Assim, a pintura de Rubens impressionou pela presença de vida inundada pela sua visão singular. Rubens e Velásquez coincidiram na recusa às formas ideias da beleza clássica. Ambos foram geniais na forma como interpretaram a luz, e na forma como cada um imprimiu intensidade às suas obras.