dezembro 06, 2010

O barroco nos retratos de Velasquez e Rubens

A obra de Velásquez (1599-1660), pintor espanhol que se destacou no barroco da primeira metade do século XVII, foi reconhecida com a qualificação de “pintura pura”. As suas composições eram meticulosamente organizadas e a cor distribuída por uma hierarquia de valores coerente. As personagens e os objectos eram colocados com o objectivo de criar um espaço real, a que não é alheia a tradição naturalista espanhola e a influência do pintor barroco italiano Caravaggio também na apropriação de cores ricas e naturais. Velásquez dispunha de grandes meios técnicos que lhe possibilitavam um domínio seguro na arte de pintar.


Velásquez, Retrato Equestre de Baltasar Carlos
1635, Museu do Prado(Madrid)

Em 1623 foi nomeado pintor da corte do soberano espanhol Filipe IV. Nessa função o pintor espanhol teve como principal tarefa pintar retratos do rei e da família real. O “Retrato equestre de Baltasar Carlos” (1635), insere-se num conjunto de retratos equestres, pintados para o Salão de Reinos do Palácio do bom Retiro em Madrid. Na composição, montado a cavalo, surge o pequeno príncipe Baltasar Carlos (primeiro filho varão do rei Filipe IV e herdeiro do trono), segurando na mão o bastão, símbolo do poder real. O retrato exibe impecavelmente a dignidade e a nobreza do príncipe; o que é conseguido, quer através da cor brilhante das vestes pomposas (influência de Ticiano), quer no rosto pálido e iluminado do menino, onde com uma pincelada fluida e solta, Velásquez capta a impressão humana mais característica, deixando uma sugestão de solenidade para quem contempla a obra. É de notar que o ventre do cavalo tem uma perspectiva disforme. Isto acontece porque o retrato era para ser colocado em cima de uma porta do Salão De Reinos. Como a sua posição era alta, o quadro foi idealizado para ser visto de baixo para cima, o que ilustra a atenção dada pelo pintor à organização das suas obras. De facto, muitos críticos subscrevem a ideia que o pintor espanhol fez uma síntese entre a arte do barroco e a arte clássica. Se por um lado deu ênfase ao naturalismo e à observação da natureza sem recorrer às convenções, por outro lado nunca descurou a vital necessidade do sentido de equilíbrio procurado no renascimento. No retrato do príncipe, Velásquez confere à paisagem de fundo variações de luz e sombras, fazendo sobressair a profundidade de forma equilibrada. É ainda através de pinceladas rápidas e precisas que o virtuosismo de Velásquez antece em dois séculos o impressionismo.

De todo o modo, a obra de Velásquez insere-se no período do barroco das nações católicas, isto numa altura em que a reforma suscitou enorme conflitos sociais e religiosos na Europa. Na Flandres católica outros importantes artistas beberam na fonte do barroco na cidade de Roma, onde os artistas da época convergiam e discutiam os conceitos da arte. Pintores como Rubens e Van Dyck apreenderam as concepções do uso expressivo da luz e sombra, que foram decisivas para aprimorar as técnicas com o intuito de pintar fielmente o mundo à sua volta. Exemplo dessa escolha é a particular importância dada aos artistas flamengos “para expressar a textura de tecidos e da carne”. Rubens foi um génio do barroco da Flandres católica, que tal como Velásquez trabalhou sobretudo para a realeza. Os seus retratos são extremamente realistas. Neles as personagens adquirem enorme vitalidade, a que não é alheio o contraste da cor, assim como a utilização de cores quentes nos rostos das personagens que fazem sobressair a luz e conferem expressividade e vigor. Assim, a pintura de Rubens impressionou pela presença de vida inundada pela sua visão singular. Rubens e Velásquez coincidiram na recusa às formas ideias da beleza clássica. Ambos foram geniais na forma como interpretaram a luz, e na forma como cada um imprimiu intensidade às suas obras.



Rubens,Cabeça de criança,
1616