maio 27, 2011

as raízes são intocáveis

aquele vaso que me enche a sala
outrora transbordou o meu coração
quando nus, em tardes soalheiras,
deitados nos azulejos
abríamos os braços
colhíamos o sol
uma estação inteira
de olhos abertos
respiração comedida
a aguardar dias frondosos
e antes de o corpo entorpecer
as mãos adormecerem
e as pestanas pegarem fogo
os ramos faziam caminho
num leve formigueiro
trepavam pernas, joelhos,
virilhas, ombros, narizes,
lábios, pulsos, dedos,
unindo dois corpos
com o mesmo pensamento:
o outono só ataca as folhas
nunca as raízes