E isto agora já me parece um desafio. Escrever em exíguas linhas de escasso engenho o indispensável longo alcance proposto a concluir a introdução deste blogue, dar continuidade ao diálogo aberto que se pretende com os restantes cronistas, falar também dos epitáfios colectivos e por fim deixar evidenciado o que tudo isto pode contribuir para uma tomada de consciência elucidada acerca da alteração constitucional proposta pelo PSD. Partindo daqui, não tenho dúvidas que irei precisar, para além de um verdadeiro rasgo de génio, da ajuda de todos os leitores. O lapso de génio, porém, já tive e foi o de pedir ajuda a terceiros. Façamos assim, de seguida eu vou procurar escrever uma alegoria e as senhoras e os senhores irão demonstrar a boa vontade e a imaginação de a transformar num ensaio de Montaigne.
Estes eventos tomaram lugar entre as 14h00 e as 20h00 de ontem. Para quem não está a par de todos os esguios detalhes da interessante agenda cultural da zona metropolitana do Porto, começo por dizer que terminou este sábado em Serralves a iniciativa jazz no parque que trouxe ao Porto alguns dos mais reputados músicos nacionais e internacionais da referida manifestação artística. A entrada não era livre e os convites custavam dez euros. Ainda assim e por "apenas" dois e meio todos aqueles que tiveram a pouca sorte de não conseguir o ingresso puderam e poderão dizer: «teremos sempre o parque». O escolho de tudo isto, no entanto, encontra-se no facto de, não obstante a qualidade indiscutível da música de Liebman e companhia, a beleza vegetal do espaço, principalmente de um imponente pinheiro manso presente nas imediações, e do idílio cesariano sugerido pelo voo dos aviões com escala no Sá Carneiro, relegar para segundo plano os acordes eximiamente retirados pela band das madeiras, dos metais, das cordas e da percussão. E assim quantos dez euros não era cada um de nós capaz de oferecer a quem nos prometesse uma tempestade capaz de depenar o pinus dos seus frutos e um bilhete para fora de Portugal em cada uma daquelas barcaças voadoras? Contudo, não é lícito (entenda-se lúcido) desejar tanto, como diria o capitão Nascimento no filme Tropa de Elite, o sistema não existe para resolver os problemas das pessoas, o sistema existe para resolver os seus próprios problemas.
Bem hajam.