julho 26, 2010

Conversa com livros

«Sentia que se esgotava em mim o interesse e a curiosidade pelas coisas que ia deixando para trás, mas estava animado por um tal entusiasmo, por uma tal curiosidade pela vida nova que se abria à minha frente, que tudo o que existia me parecia digno de interesse. Tremia de entusiasmo, baloiçava as pernas nervosamente, até que a profusão, a riqueza, a complexidade de todas as possibilidades se transformaram, dentro de mim, numa espécie de terror.»
[Orhan Pamuk em "A Vida Nova"]

Parecia que as coisas antigas de que me queria ver livre a todo o custo não me largavam. Não saberia ainda nomeá-las, e apesar de virar as costas à almágama dispersa na velocidade invisível e pertubadora, tentava atrair uma força capaz de expulsar os fantasmas que sentia atravessarem-me por toda a pele. Tinha que haver algo mais, mesmo que duvidasse incessantemente da minha sorte em atingir a Vida Nova. Por vezes, preocupava-me a ideia recorrente de que o meu tremor e fascínio pela novidade fossem uma farsa, como se eu fingisse em acreditar em tudo o que não conseguia ver, como tivesse ganho colateralmente um hábito, mesmo um vício; um reflexo mais do que condicionado, de faculdade inoperante (para não dizer trágico).