fevereiro 05, 2012


Diário a Beatriz / dia trinta

Será, Beatriz, desencontro o nome do nosso destino. E, por habitarmos a alma, a misteriosa sina de possuir sempre na lonjura do infinito a seiva que a alimenta e no vazio mais alto a estrela que a ilumina. Esta estranha força que nos assiste constante, preclara ao nosso desassossego de ver sempre tudo como talvez veria um cego de nascença se após o milagre da sua cura fosse a noite a sua primeira visão. A única esperança que se concretiza é aquela que se adia para sempre. Sabes bem que me entregarei a outras mulheres como te entregarás tu a outros homens. E seremos claros nisso como a manhã e profundos como o abismo e assumiremos com serenidade o desatino desse sangue e com modéstia a consequência dessa carne.
Onde estivermos não estará o nosso coração e habitaremos o corpo como um vagabundo que se abriga nas ruínas de uma casa abandonada.
O futuro virá. Quem formos. Não poderemos amar. Não poderemos morrer. Estaremos abandonados onde nenhuma realidade nos sabe exigir.