junho 20, 2011

Diário a Beatriz / dia vinte e seis

Evocando o meu passeio matinal pelos terrenos da história vejo camaradas caídos sob o peso incorpóreo dos ideais. As ervas daninhas alcançam sempre irromper de um olhar, de um pulso, de um peito, e o joio cresce da fé dos cadáveres como a infância dos sonhos. Despojados. O mundo levou-lhes tudo de humanidade. Os lenços, as cigarreiras, as navalhas, os cintos, os botões. E de homens ficaram-lhes apenas as órbitas cegas, as pernas decepadas, os braços amputados, as estrelas no céu. Caminho pelo atalho dos corvos e sigo lendo com tristeza as bandeiras derrubadas como se fossem epitáfios. Liberdade, justiça, paz, perdão. Versos desprezados pela lira de Deus que eles escutaram por amor às mulheres. E apenas se pode dizer que os poetas são os verdadeiros assassinos.