dezembro 12, 2011
Ilógica de mercado
dezembro 06, 2011
novembro 03, 2011
Ausência
E não estás
Se estivesses eu mudaria
Sem ti não são bonitas
Com as palavras ao nosso cuidado
Inventávamos lado a lado
sem interesse pelas aparências
Cuidar-te na noite de ninguém
Seguir no teu corpo um novelo de lã
Até ao sol da manha
E não acordar cansado
Avulta a medonha falta
A luta acorda o abandono
A culpa pela ausência que te persiste.
Liberta com o punhal a palavra presa
Mesmo que a ponta afiada do desejo
Viva a dor que é livre em mim
E só o amor fique ileso
Mas de escapar não te iludas se ficares para trás
As palavras que contam não contam
As nossas histórias
E as outras são tuas e mudas
Todas, porque tu não estás
setembro 23, 2011
setembro 07, 2011
Diário a Beatriz / dia vinte e oito
Assim que claridade do dia nos permite distinguir o fim erguemo-nos do nosso leito de esquecimento e como medo irrompemos pelos caminhos contra a transparência da realidade. Nunca saberemos, por mais que se o afirme e procure e negue e ignore, nunca. E no entanto continuaremos a sentir que sim, mesmo quando não. A sentir que sim e a olvidar o que não, porque são inúteis as respostas, ainda mais as definitivas, para quem quer viver para sempre.
agosto 29, 2011
Corpo Espiritual
Escurecido, fugidio, ainda assim o sinto,
como se a réstea da minha alma
fosse uma crescente visão
impregnada do labor do faroleiro
seguindo à frente da tua busca
de contornos e pontos fixos.
Há na profundidade do teu corpo
como se move, como descansa,
como se espelha em modelos despidos,
uma razão para não ter pressa
em recuperar os sentidos.
Há no vagar dos corpos
a antiga consciência de refazer a luz.
julho 13, 2011
uma redoma de terra
em berço assente no húmus
e florescer a cada manhã água,
crianças, árvores, animais,
no olhar contente, brilha o sol
nas mãos abertas, o vento
em esperança, as estrelas
do centro da esfera,
o seu coração brota raízes
que a faz girar todas a manhãs
em festividade de carrossel
julho 02, 2011
junho 29, 2011
poeira na estrada
Ha algo de absolutamente rebelde num idoso a conduzir numa estrada de terra: quando mais anos mais lhe assapa...mais o carro se atravessa e o pó levanta...não sei se de deve a perda qualidades conduçao e controlo veiculo, se a perda da noçao do risco, se pura loucura, ou simplesmente... para mostrar ainda quem manda....sei que tem algo de poético e que portanto, me agrada.
junho 23, 2011
junho 22, 2011
Passear
junho 20, 2011
junho 12, 2011
Fecho 478
junho 11, 2011
Fecho 479
Pela minha parte fico ansioso quando estou com alguém extremamente preocupado em aproveitar o momento que nos ocupa – é sinónimo de incomodidade para o meu lado. Se não fosse por receio do conflito deixaria o companheiro ir à sua vida aproveitar como mais lhe conviesse, livrando-me do desconforto dos seus anseios imediatos. Faço parte por natureza daqueles que não se sentem obrigados a servir-se da extensa variedade de prazeres, não querendo que confundam com a ideia de que não sou propenso a vícios e paixões. Se há algo que me satisfaz é ficar distraído na medida que o tempo pára e o movimento à minha volta responde à velocidade que estou ligado. Nesse quase sempre inesperado e lucrativo momento é possível que dê azo a algum tipo de irresponsabilidade fruto da distorção a que o tempo fica sujeito. Não esqueço que por uma vez ou outra encontro-me na tentação de fazer o que me apetece. Nessa altura tenho uma solução – estar só, estado que ninguém de boa fé poderá negar ao seu semelhante.
junho 10, 2011
Fecho 480
Viver é provar que estamos vivos. E senão o soubermos demonstrar nunca acabaremos por nascer. Tudo não passará de uma simulação que não verá a luz do dia ou de um convite personalizado que não chegou a ser impresso. Não interessa que procure o pulsar da vida imitando aquele que teve de nascer para estar mais perto do nada factual. Tem de ser.
junho 09, 2011
Fecho 481
Um pouco mais de paciência. Somos mais na última nota. Sentimos mais porque nunca tivemos tão pouco. E se formos caçadores da nossa alma não passaremos fome, nem cometeremos crime um dia de caça que seja. Não teremos vergonha quando a presa for mais lesta. Não negaremos a vida por mais que a morte seja a nossa viciada lança. Não sossegaremos mesmo que a ponta envenenada do espelho do real retire o brilho da estrela pessoalíssima que nos serve e cuida.
maio 31, 2011
dia aberto
e quando chegou o dia fechado
ousei decretar feriado corporal
na campa de terra deste cemitério
fiz mirrar a minha pele exangue
aberta todas as horas do dia
e as raízes, ténues e originais,
como as veias de sangue puro
furaram a pele, uma a uma,
até me tornar árvore lisa e branca
e do meu tronco sair um cordão
foi um sonho,
senti do umbigo,
Deus só criou os dias abertos
Infinita Beatriz, estes tempos que se fizeram da saudade que te escrevi ontem, cresceram afinal o oceano de esperança que hoje nos afasta, e porque algo do teu silêncio se revela agora num esquecimento, contra o epílogo sublime das vagas, todo o meu corpo se desmorona a chamar-te onde estás, pois nem marejado pelo crepúsculo das águas profundas nos olhos te consigo já distinguir na lonjura que antes foi a distância perfeita do meu coração.
peço um livro
peço um livro
que me devolva
as águas do ventre
não me rebente
as paredes da casa
me envolva no tapete
e me segure de abrir a porta
todos os dias da minha vida
peço um livro umbilical
maio 30, 2011
o ponto negro
estive mesmo para te tirar esse ponto negro
mas tu: não, meu deus, que deve doer
dor a sério é a que trago nos olhos
que se estalagmita por teimosia
na luz cavernosa do que não é
é só mais um ponto no meio dos outros
e tu até és achacado a essas porosidades
mas porque incomoda tanto esse sinal
à aura branca e luzidia do meu corpo?
fácil e dura a resposta: é um pontinho,
um início de negrume impercetível aos demais
ou um ponto final da maldade que te habitou
e que importa isso?, perguntam as outras,
afinal ele é o mais alto, bonito e viajado
mas a mim a resposta persegue-me:
é o teu corpo que esse ponto pinta